quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Horror na Igreja

Mais uma vez voz escrevo! Dessa vez, enquanto estava sentando em minha varanda assistindo aos últimos minutos do sol, me lembrei de uma estória intrigante e se analisar bem, assustadora. Isso se passou com meu pai, quando eu era moço. Não estava presente, mas me acompanhou por toda a minha vida. Lembro de nossa antiga fazenda. Passei a maior parte do tempo ali, por isso minhas estórias vem de lá.

Quando era mais moço, ficava em casa com minha mãe. Ela cuidava sozinha de toda a casa, de mim e de meu pai. Eu ficava estudando em uma mesa velha de madeira. Minha mãe sempre dizia que tinha que me aplicar aos estudos. Nunca foi mole nesse sentido. Vez ou outra eu ajudava meu pai, quando era preciso. Ele cuidava de tudo da porta para fora.


Dos animais, de nossas máquinas, de nosso plantio. Era uma vida dura. Mas estávamos sempre juntos. Certa noite, quando já estávamos dormindo, começamos a ouvir barulhos estranhos do lado de fora da casa. A principio achamos que era a mimosa, nossa vaca que estava com barriga para ter filhotes. Meu pai levantou e pediu para  ficássemos de guarda caso precisasse de alguma coisa.


Ele contou que ao sair, olhou os bichos, e nada estava diferente. Olhou a casa das máquinas e tudo estava quieto em seu lugar. A única coisa que tinha perto da gente era uma igreja abandonada a muito tempo. Como não era longe e meu pai já havia perdido o sono, resolveu ir até lá verificar. Ela ficava a poucos passos da fazenda, não foi uma longa viagem cansativa.


Assim como todas as coisas abandonadas a tempos, a igreja fedia, estava caindo aos pedaços. Toda esburacada, sua pintura estava se desfazendo a ponto de dar para ver o material que foi usado para fazê-la. Meu pai tomou cuidado ao abrir a porta para que a mesma não caísse em sua cabeça. Entrou. Não havia iluminação alguma e o ar era abafado, quase impossibilitando a respiração.


Os bancos comidos pelos bichos, teias de aranha por toda parte e um cheiro pútrido que só aumentava. A igreja não era grande. Era bem pequena em comparação às normais. Chegando próximo ao altar, reparou, pela pouca iluminação que vinha das janelas embaçadas de poeira, que a imagem de Jesus estava de ponta cabeça. "Que brincadeira de mal gosto" - meu pai pensou.


E se esforçou a colocá-la no lugar. Ao fazer isso, começou a ouvir um barulho que vinha de perto da porta. Um barulho espectral, que mal conseguia descrever. Ao olhar para trás viu uma sombra crescendo do chão, disforme, como se fosse um homem esquelético com roupas esfarrapadas. Com o escuro, só podia ver sua silhueta. Aquilo foi se arrastando em direção ao meu pai, grunhindo e liberando o pior dos odores.


"Eu sou a criatura que agora habita esse lugar" - aquilo emitiu uma voz rouca e abafada, como se fizesse anos que não falava. A criatura foi se aproximando de meu pai que ficou parado sem saber o que fazer. A única coisa que fez foi obedecer ao cérebro. Corra. Correu, passou por dentro da criatura, mas aquela o segurou sem tocá-lo. Fez seu corpo paralisar e sentiu um gelado por todo seu corpo.


A última ação da criatura foi gritar no ouvido de papai enquanto estava impossibilitado de se mexer e depois desapareceu. Logo ele ouviu um barulho de madeira caindo e reparou que a imagem de Jesus, mais uma vez estava de ponta cabeça. Ele saiu correndo dali o mais rápido que pode. Chegou em casa e mandou que eu e minha mãe fechássemos tudo e rezássemos pedindo proteção.


Após aquele dia meu pai quase não falava. Estava mais sério e determinado a colocar a igreja a baixo, mas todos os seus pedidos na cidade foram recusados. Segui meu pais pelos próximos dias e só um mês depois consegui ver uma coisa muito estranha. Enquanto ele tomava banho, vi pelo espelho uma marca avermelhada, como se fosse uma queimadura, mas já bem clara.


Consegui identificar um círculo vermelho com algo que parecia uma estrela, mas de cabeça para baixo e uma leve silhueta de cabeça de bode. Mas no que pisquei, ela sumiu. Depois de longos anos, minha mãe me contou todas essa história. Sempre que perguntava o que tinha acontecido naquele dia, meu pai sempre falava para nunca chegar perto daquela igreja, pois o mal residia ali.







sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A vaca de minha mãe

Quando eu era mais novo, vivia com meus pais na fazenda que meus tataravós deixaram para meus bisavós que deixaram para os meus avós que deixaram para os meus pais que deixaram para mim que não pude cuidar e vendi.

O que eu estava falando mesmo...ah sim, a fazenda de meus pais...que era dos meus tataravós que deixaram para meus bisavós que...ah, perdoe-me, já havia dito essa parte.

Então, a fazenda. Era um lugar muito bonito, vasto, com muitos animais, aqueles bichos todos de fazenda, sabe? Pois é. Lá nossa família tinha a Bimba.

A vaca de minha mãe, Bimba, todo dia vivia muito feliz pastando com outras vaquinhas e boizinhos até que aconteceu um acontecido. 

Minha falecida mãe que me passou essa história que vou-lhes contar agora. Quando aconteceu eu era muito menino e não me recordava, mas depois de menino crescido, ela fazia questão de me contar toda a noite dizendo:

- Albert, meu filho, um dia essa história vai rodar o mundo! Nunca se esqueça dela, de nossa Bimba!

E com este, venho satisfazer as poucas vontades de mamãe. 



Era uma vez uma vaca.
Bimba era uma vaca magra, malhada e cagada.
Um dia a vaca zuniu, caiu se dirigiu para a porta de entrada da casa.
Uma vez, sem freguês com algidez se fez de morta
E morta ficou, chorou, lamuriou!

A vaca fedia, entupia e cheia de azia ficou
No canto, no plano sem manto.
Mas um novo dia chegou, gritou e pulou,
Para uma nova farsa, sem alça, sem calça.
Andou pela rua, nua e perua,
Para chamar atenção de um dono, sem sono, no abandono.

Sozinha, na linha, com sua mantinha,
Marchou em direção a uma nova casa, sem asa, na Nasa.
Na estação espacial ficou, se alojou e se pendurou
Em uma cama, uma dama sem fama
E de lá nunca mais saiu, fugiu ou traiu.


In Memoriam 
Bimba, a vaca de minha mãe.





O texto

Era uma vez um texto que precisava ser escrito, mas não havia ninguém para escrever.

Certo dia, pairando pelo ar, esperando ansiosamente por alguém ávido a escrever, uma menina sentiu uma leve brisa em seu rosto e notou que era uma brisa diferente.

Conseguiu perceber que algo intrigante e desafiador estava para acontecer. Então, por pura intuição, levantou as mãos para o alto e conseguiu alcançar a escrita. E desde esse dia , a menina nunca mais deixou de escrever o texto que precisava ser escrito.